MITOS
Mitos são histórias arquetípicas (ou seja, inconscientes) que se manifestam de diferentes maneiras, em diferentes culturas e tempos.
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Exu, Ganesha, Toth, Hermes e Maire-monan são mitos criados em diferentes culturas, tempos e espaços e que representam aspectos do movimento, da comunicação, da mediação entre mundos, da sabedoria e da abertura de caminhos, chamados de psicopompos pela psicologia junguiana.
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As gravuras são criações simbólicas de Tania Sassioto, conheça a origem dos mitos, pelo olhar da analista junguiana Daniela Euzébio, em colaboração com especialistas.
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Hermes: o mensageiro dos deuses
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Filho de Zeus e da plêiade Maia, Hermes demonstrou uma inteligência extraordinária desde o seu nascimento. No mesmo dia em que veio ao mundo, viajou secretamente até a Tessália e, com inigualável astúcia, roubou o rebanho sagrado de seu irmão Apolo. Para despistar seus perseguidores, forçou os animais a caminharem de costas e amarrou galhos em seus próprios pés para apagar as pegadas, revelando sua natureza engenhosa e ousada.
No caminho de volta, Hermes encontrou uma tartaruga e, utilizando sua carapaça, criou o primeiro instrumento de cordas: a lira. Quando Apolo descobriu o furto, levou o jovem deus a julgamento perante Zeus.
No entanto, ao ouvir o som divino que Hermes extraía da lira, Apolo ficou tão encantado que perdoou o irmão, propondo trocar todo o seu rebanho pelo novo instrumento musical.
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Consultoria: Prof. Dr. Waldemar Magaldi.
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Ganesha: o senhor dos começos e removedor de obstáculos
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Filho da deusa Parvati, Ganesha foi criado de maneira singular. Desejando privacidade para seu banho ritual, Parvati moldou um menino a partir de uma pasta de ervas — ubtan — e, com seu sopro divino, insuflou-lhe vida. Seu marido, Shiva, encontrava-se ausente, em função de suas muitas viagens, e decidiu retornar para casa.
Logo ao chegar, viu um desconhecido guardando o banho ritual de Parvati. Mesmo sem saber quem era o garoto, tentou entrar no recinto, mas foi
impedido. Tomado de fúria, Shiva decapitou-o com um só golpe. Ao ver seu filho sem vida, Parvati ficou inconsolável e exigiu que Shiva o devolvesse à existência. Atendendo ao pedido, Shiva enviou seus servos — os ganas — em busca da primeira cabeça voltada para o norte.
Eles encontraram a de um elefante, que foi unida ao corpo do menino. Assim, com seu profundo saber, Shiva o trouxe de volta à vida e declarou que Ganesha — o deus com cabeça de elefante — seria o senhor de todos os começos.
Consultoria: Filipe Marcel, sacerdote brâmane iniciado na Índia em 2008.
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Exu: o senhor dos caminhos
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No princípio, o Grande Olodumare, Senhor do Céu e da Existência, olhou para o vazio e viu que algo faltava. Havia luz, mas não movimento; havia silêncio, mas não voz. Com o seu saber das coisas, soprou sobre o caos primordial e nasceu Exu, o primeiro mensageiro, que foi encarregado de ser o senhor dos caminhos, do movimento, da transformação.
Além disso, Olodumare incumbiu Exu de ser o fiscal do equilíbrio cósmico, o que movimenta as energias e interfere nos destinos, seja para ajudar ou para desafiar os seres humanos e os próprios orixás.
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Quando os demais orixás desceram à Terra, encontraram um mundo estagnado, sem direção. Exu ergueu seu ogó — cajado —, golpeou o chão e, num só instante, as estradas se abriram. Ali se revelou seu poder: nada poderia florescer ou cumprir-se sem sua presença. Exu tornou-se o guardião dos começos e dos fins, capaz de destravar portas ou trancá-las para sempre.
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​​​Consultoria: Me. Luan Rocha de Campos, sacerdote de quimbanda, bruxaria e orixá iniciado em 2019.
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Toth: o escriba dos deuses e guardião da sabedoria
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A origem de Toth é envolta em mistério… Há muitas versões de seu mito e sobre sua origem. Em algumas representações, tem o corpo humano com cabeça de íbis; em outras, é um babuíno.
Certas narrativas afirmam que Toth gerou a si mesmo, possuindo, em si, a centelha primordial da autocriação; em outras, ele é concebido pelo deus Rá que, cansado de governar sozinho, cria- o com o intuito de torná-lo mensageiro do equilíbrio e da ordem cósmica. Desde o princípio, Toth tornou-se o escriba dos deuses e instituiu o registro da palavra sagrada pelos hieróglifos, concedendo à humanidade o dom da escrita. Associado também à Lua, estendeu seus domínios sobre os ciclos celestes, criou o calendário e mediu o tempo, sustentando o cosmos com a matemática e a astronomia.
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Toth teve papel decisivo na ressurreição de Osíris, morto e esquartejado por seu irmão Seth, que lançou seus restos no Nilo. Em busca do amado, Ísis, esposa de Osíris, recolheu cada fragmento e solicitou a Toth que, com sua sabedoria, ajudasse a recompô-lo e lhe restaurasse a vida. Nesse rito sagrado, Ísis gerou seu filho Hórus, herdeiro do trono. Após a ressurreição, Osíris se tornou o Senhor do Mundo dos Mortos.
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Consultoria: Profa. Dra. Thais Rocha, egiptóloga, professora do Departamento de História — Universidade Federal de Minas Gerais.
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Maire-monan: o semeador dos conhecimentos
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Os antigos da nação tupinambá contam que, no princípio, Monan criou o céu, a terra, os pássaros e outros animais. Os povos viviam em harmonia, mas, com o tempo, afastaram-se do bem, esquecendo a própria origem. Então, Monan retirou sua presença da humanidade e lançou sobre a Terra o fogo celeste, consumindo tudo o que aqui vivia.
No caos, apenas Irin-magé permaneceu e foi levado ao céu diante da força de Monan, que mandou das alturas chuvas abundantes para apagar o fogo e criar os rios, mares e outras águas. Irin-magé disse que a Terra não poderia ficar devastada e sem habitantes, e lhe foi enviada uma companhia para iniciar uma nova humanidade. Dessa união surgiu Maire-monan que, com seu vasto saber, ensinou os povos a distinguir os vegetais úteis dos nocivos, revelou as plantas medicinais, encheu o mundo de animais diferentes, introduziu a cultura da mandioca, diversos costumes e ritos do nascimento.
Também orientou os humanos a não comerem carne de animais pesados e lentos, e difundiu o uso do fogo. Apesar de tantas dádivas, a humanidade recaiu novamente em ingratidão. Num ato de ardilosa conspiração, convidaram Maire-monan para uma festa, na qual lhe foi proposto o desafio de pular três fogueiras. Confiante, atravessou a primeira sem ferimentos, mas, ao pisar
na segunda, grandes labaredas se ergueram, e Maire-monan se viu no centro do fogo. Sua cabeça explodiu e chegou até o céu, originando os raios e trovões, símbolos de Tupã.
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Consultoria: Moara Tupinambá, indígena do povo tupinambá, artista plástica, curadora, designer, ilustradora, comunicadora e ativista dos direitos indígenas.
