Cartas
Carta da Dra. Nise da Silveira para C. G. Jung em novembro de 1954
Professor C. G. Jung
Mestre,
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No Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro existe, ao lado de outros setores de terapia ocupacional, um ateliê onde os doentes desenham e pintam com a mais completa liberdade. Nenhuma sugestão lhes é dada, nenhum modelo é proposto. E eis que surgem imagens primordiais em suas pinturas, apresentando uma demonstração empírica e convincente da psicologia analítica.
Com minhas mais respeitosas homenagens, eu vos envio algumas fotografias de pinturas que me parecem mandalas (ou formas aproximadas). Elas foram pintadas espontaneamente pelos esquizofrênicos. Está descartada qualquer possibilidade de influência cultural.
Eu mal poderia expressar, Mestre, o quanto o estudo de seus livros tem trazido luz ao meu trabalho como psiquiatra, além de muito me ajudar pessoalmente.
Creia-me sua mais humilde discípula.
Nise da Silveira
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Resposta de C. G. Jung por intermédio de sua colaboradora, Aniela Jaffé, em dezembro de 1954:
Cara senhora,
O professor Jung pede-me para agradecer-lhe pelo envio das interessantes fotografias de mandalas desenhadas por esquizofrênicos.
O Professor Jung faz diversas perguntas, que reproduzo a seguir:
Que significaram esses desenhos para os doentes, do ponto de vista de seus sentimentos?
O que eles quiseram exprimir por meio dessas mandalas?
Será que esses desenhos tiveram alguma influência sobre eles?
Ele ainda observou que os desenhos têm uma regularidade notável, rara na produção dos esquizofrênicos, o que demonstra forte tendência do inconsciente para formar uma compensação à situação de caos do consciente.
Ele também notou o número 4 (ou 8 ou 12, etc) prevalece.
Eu, por minha parte, acho que as cores dão ainda mais força expressiva aos desenhos. Eu agradeceria muito se nós pudéssemos guardar as fotos, caso não sejam necessárias. Talvez a senhora possa responder às perguntas do Prof. Jung, o que lhe será de grande interesse.
Queira receber a expressão de nossa alta consideração.
Ass.: Aniela Jaffé
P.S.: Para a compreensão psicológica, seria também interessante saber alguns dados biográficos dos pintores.
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Carta convite de C. G. Jung para Nise da Silveira, endereçada ao Instituto C. G. Jung:
Senhores!
O signatário desta convida a doutora Nise da Silveira a fazer parte, no semestre do verão de 1957, do Instituto C. G. Jung de Zurique.
Os cursos, os seminários e o contato com meus colaboradores serão de grande importância para a preparação da exposição de arte psicopatológica, que deverá ser organizada por ocasião do Congresso Internacional de Psiquiatria, que se realizará em Zurique, em 1957.
Eu ficaria contente se, por meio da visita da doutora Nise da Silveira, o contato entre os psiquiatras do Brasil e da Suíça se aprofundasse.
Certamente esse encontro será importante para o futuro tanto da psicologia quanto da psiquiatria.
